Visita à "porta da paz" na Síria
24/07/12 13:47BAB AL SALAM (SÍRIA) – As notícias da morte iminente do regime sírio foram exageradas. Mas é inegável que os rebeldes fizeram avanços significativos na última semana. A guerra civil finalmente chegou ao centro das duas principais cidades do país, Damasco e Aleppo. Na capital, uma explosão no centro nervoso da segurança da ditadura matou pelo menos quatro altos oficiais. Os dois principais postos da fronteira com a Turquia foram abandonados pelos soldados do ditador Bashar Assad, derrotados em combates com os rebeldes. Em Bab al Salam (porta da paz, em árabe), onde passava grande parte do comércio entre os dois países, opositores armados com fuzis Kalashnikov fazem o sinal da vitória pisando em retratos despedaçados de Assad. Quando visitei a fronteira, pouco após a conquista, eles batiam papo preguiçosamente nos escritórios refrigerados da aduana. Estranhamente, não havia qualquer sinal de estresse e a “porta da paz” justificava seu nome.
Parece o começo da revolução na Líbia, mas as semelhanças param por aí. Na Líbia, os insurgentes conquistaram rapidamente uma enorme fatia do território, o que lhes deu fôlego para se organizar. Na Síria, o regime responde com chumbo grosso à revolta em quase todo o país e não permitiu o estabelecimento de uma zona de segurança, como na Líbia. Em Damasco, a ofensiva rebelde foi rechaçada e o regime reassumiu o controle das áreas-chave.
Mas a admissão do governo, pela primeira vez, de que possui armas químicas parece um sinal claro de que Assad sente-se cada vez mais encurralado. Por enquanto, nenhum dos lados tem condições de derrotar o outro. O desfecho é incerto. A eventual queda de Assad não significa o fim da violência. Com o sectarismo em alta, vislumbra-se um cenário como o da guerra civil no Líbano, com um país desintegrado em regiões controladas por diferentes facções. Ouve-se cada vez mais que Assad já teria se mudado para a cidade costeira de Latakia para estabelecer uma área protegida para os alauítas, a seita minoritária a que pertence sua família e grande parte da elite militar.
Outro dia eu viajava com dois sírios sunitas perto da fronteira, quando um rapaz, também sírio, pediu carona. Estranhei que os dois, geralmente falastrões e gozadores, ficaram em silêncio até o fim da viagem. Depois me explicaram: “Não confiamos. Ele é alauíta”.