Vitória palestina, chance perdida de Israel
29/11/12 10:03A data de hoje é histórica para Israel. Em 1947, a Assembléia Geral da ONU aprovou o plano de partilha da Palestina, que determinou a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, e levou à fundação de Israel. A liderança árabe, dentro e fora da Palestina, rejeitou o plano. Alegou que a divisão era injusta, pois dava 55% aos judeus, reivindicou o direito a todo o território e declarou guerra. Uma chance histórica foi perdida e os palestinos pagam até hoje o preço pelo erro, hoje admitido por sua liderança. Em Israel, o 29 de novembro virou nome de rua e um marco do triunfo sionista.
Exatos 65 anos depois, hoje é a vez de os israelenses desperdiçarem uma chance, ao rejeitar a iniciativa dos palestinos de pedir à ONU que eleve o seu status na organização, de entidade observadora para Estado observador não-membro. É bom lembrar que não se trata de reconhecer o Estado palestino; isso não se faz na ONU, mas entre países. Ainda assim, é uma vitória diplomática dos palestinos, que ganharão o aval da maioria esmagadora dos 193 membros da Assembléia Geral da ONU.
Em vez de se isolar junto com um minúsculo grupo que votará não (além dos EUA e Canadá, aliados permanentes, só Micronésia e Guatemala declararam o voto contrário), Israel poderia ter aproveitado para mostrar ao mundo que apoia a solução de dois Estados na prática, e não apenas na retórica de seu primeiro-ministro, Binyamin Neatanyahu.
“Derrota histórica”, foi a manchete de hoje no jornal mais popular de Israel, “Yediot Aharonot”. Com mais habilidade, porém, Israel poderia transformar a derrota em vitória, e não só uma vitória de relações públicas. Se a resolução que será votada hoje na ONU falar em um Estado palestino nas linhas de 1967, como prometem os palestinos, significa também um reconhecimento de Israel nesse limite geográfico, o que pode ser usado para legitimar os palestinos moderados. Mais ainda, enfraquecer os radicais que ainda sonham em estabelecer um Estado palestino em toda a área dividida pela ONU em 1947.
O governo israelense reclama, com razão, que a Assembléia da ONU tem uma maioria automática a favor dos palestinos, devido ao apoio de países islâmicos e os conchavos feitos com outros grupos regionais. O problema é que Israel também desenvolveu uma desconfiança automática à ONU e aos gestos palestinos, mesmo aqueles com potencial de conduzir à retomada do diálogo.
Exemplo: há cerca de um mês, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, concedeu uma entrevista apaziguadora e corajosa à TV israelense. Abbas afirmou que não tem ambições de voltar à casa onde nasceu, em Tsfat (norte de Israel), e que para ele a Palestina é o território ocupado por Israel em 1967, que inclui a Cisjordânia e Gaza. O governo israelense desprezou a declaração histórica, acusando Abbas de interferência em sua campanha eleitoral. Pode até ser que Abbas tenha um discurso duplo, como diz Israel. Que estenda a mão para a paz quando fala em inglês e carregue na intransigência quando se dirige ao público árabe. Mas era uma boa chance de testar a sinceridade do presidente palestino ou mesmo desmascará-la, se fosse o caso. Israel preferiu ignorar.
Não quer dizer que a negociação com Abbas levaria a uma solução para o conflito. O presidente só governa metade do território palestino e não consegue nem chegar a uma reconciliação nacional com o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza. Abbas, que já estava sob pressão popular devido à crise econômica na Cisjordânia e ao desânimo com a estagnação do processo de paz, ficou ainda mais enfraquecido depois da miniguerra travada na semana passada em Gaza, da qual o Hamas saiu de moral elevado. Trata-se portanto, de um ato de sobrevivência política para Abbas. “Ou ele vai à ONU ou vai para casa”, resumiu um palestino.
Está claro que não é possível chegar ao fim do conflito sem que os palestinos façam um acordo entre eles. Acordo que, tanto em Gaza como na Cisjordânia, é hoje considerado missão impossível, diante do ressentimento mútuo e das profundas diferenças ideológicas entre o Hamas e o Fatah, o grupo secular liderado por Abbas. A divisão também sabota a iniciativa na ONU, já que ela se apresenta em nome de todos os palestinos enquanto é rejeitada pelo Hamas, que afinal chegou ao governo em eleições legítimas em 2006 (antes de consolidar seu poder com um golpe, um ano depois). Nada é simples, mas Israel poderia ao menos estimular a parte moderada da equação palestina se deixasse de lado a desconfiança automática e desse uma chance a Abbas.
Desde que entraram na ONU, em 1974, os palestinos são representados pela OLP (Organização para a Libertação da Palestina), da qual o Hamas não faz parte. A votação de hoje mudará o status de “entidade observadora” para “Estado observador não-membro”. Pouca coisa mudará na prática para os palestinos. Mas a diplomacia é feita de símbolos, e o apoio maciço da comunidade internacional pode dar a Abbas a confiança para retornar à mesa de negociações, mesmo sem ter atendida a condição de que Israel suspenda a construção nos assentamentos judaicos da Cisjordânia. Assim, quem sabe, o 29 de novembro também venha a ser nome de rua nas cidades palestinas.
“Nunca renunciei e não renunciarei nunca ao direito de retorno”, afirmou Abbas na noite de sábado, em entrevista ao canal de televisão por satélite egípcio Al Hayat”.
Mahmoud Abbas em entrevista na língua inglesa para a TV israelense é muito diferente do Abou Mazen que fala em árabe para a TV egípcia.
Israel não precisou desmascara-lo. O próprio o fez. E rapidamente.
Aladin,
Em 1º lugar o que é ser terrorista? É jogar 1000 foquetes contra população civil e ou ser mais eficaz e bombardear com aviões população civil também como Israel faz, para mim as duas coisa podemos chamar de terrorismo, portanto com esse seu algumento os dois lado são terrorista. Quanto as terra esse seu argumento não merece nem comentário, nunca uma guerra pode ser usada para justificar a tomada de terra de outra nação.
Caro Marcelo, gostei muito. Mas acho que você fala de “Israel” como um todo monolítico. Na verdade, a parte de Israel que está no governo estã tão pouco interessada na solução Dois Estados quanto o Hamas. Acho que esse aspecto precisa ser salientado: Israel está cindido, e é importante o destaque para que as comunidades judaicas na Diáspora se dêem conta disso, e passem a ter visão mais crítica. Pergunto sua opinião sobre isso: Fissuras nas comunidades judaicas da Diáspora podem ter efeito positivo para a oposição israelense?
Caro Sérgio, é uma ótima questão. Acho que as comunidades judaicas da diáspora teriam mais força se adotassem uma postura mais crítica. Se o governo israelense fala em nome do povo judeu, os judeus de fora de Israel também tem o direito de questionar suas ações. Na minha opinião, isso reforçaria seu apoio a Israel, não o oposto.
Aliás, postura crítica é algo que falta nos dois lados das diásporas. As comunidades árabes também deveriam ser mais críticas em relação às atitudes não democráticas em seus países de origem. Isso aumentaria sua credibilidade quando condenam Israel.
Muito bom e objetivo o artigo do Sr. Marcelo Ninio.
Impressionante a tendencia a criticar Israel do reporter, embora saiba que Gaza é controlada pelo Hamas e a Cisjordania controlada pelo Fatah. De qual “estado” o jornalista está falando? Qual “estado” será promovido? Se estão discutindo sobre 1967, como fica a primeira resolução da ONU de 1947? Que papo mais anti-Israel e tendencioso. A explicação é bastante simples: basta ir no youtube no seguinte endereço – http://youtu.be/UGMliX43CgI
em ingles fácil de entender e com legendas.
Sérgio, deixei claro que sem a reconciliação palestina não há como chegar a um acordo final. O meu argumento é que Israel causaria menos danos a sim mesmo se não rejeitasse a iniciativa palestina na ONU, como aliás pensam muitos israelenses. Entre eles o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Olmert, que declarou ser fundamental fortalecer as forças palestinas moderadas lideradas pelo presidente Mahmoud Abbas.
Essas negociações da maneira que são feitas não fazem o menor sentido. Os palestinos pedem aos israelense um estado nas fronteiras de 1967 (o que é o seu direito), os israelenses dizem “não”, e fica por isso mesmo. Os israelenses vivendo em liberdade e os palestinos sob ocupação. Ocupando uma nação estrangeira há 45 anos a solução deveria ser imposta aos israelenses pela comunidade internacional. Enquanto não aceitassem as fronteiras de 1967 e a divisão de Jerusalém deveriam ser alvos de sanções, como ocorreria com qualquer outro país nesta situação.
Caro Gustavo,
Acho que você não conhece a história. Ou, quando se trata de judeus, você finge esquecê-la.
Você já escreveu seu descontentamento sobre a Inglaterra ter terras em águas argentinas? Ou você já fez algum manisfesto contra a ocupação da China no Tibet? Ou somente te incomoda a ocupação israelense?
Israel sempre buscou a paz. As terras anexadas foram conquistadas em guerras nas quais Israel foi covardemente atacado por dezenas de inimigos árabes. onde estava a ONU ou os “defensores dos fracos e oprimidos” quando 6 milhões de árabes atacaram 1 milhão de judeus? Israel seria devolvido aos judeus se tivessem sido derrotados? Você estaria hoje escrevendo pelo direito dos judeus?
Impressionante a “amnésia” dos “defensores” de plantão. Advogados de porta de cadeia. Pode chamar sua opinião anti-Israel do nome que quiser. Pode se fantasiar de “politicamente correto”. Mas você é, como todos os que apoiam um estado comandado por forças terroristas, que atirou mais de 1000 foguetes contra uma população civil, um grande antissemita.
Em primeiro lugar, acho engraçado você saber se eu me manifesto ou não sobre os outros lugares, você hackeou meu histórico na internet? Pode-se discutir se tal terra pertence a este ou aquele país ou se determinada região, mas até onde eu saiba os tibetanos possuem cidadania chinesa, são iguais perante a lei. Não digo que não haja discriminação extra-oficial, mas isto também poderia ser dito sobre os árabes de Israel.
Quanto ao que aconteceu em 1948 não acho que interessa pois estamos em 2012. De qualquer forma, você se esqueceu dos quase 1 milhão de árabes expulsos de Israel naquele ano?