Greve na "oposição" israelense
04/10/12 13:18
Pela primeira vez em 30 anos, o jornal israelense “Haaretz” não foi publicado hoje. Uma greve de um dia foi declarada em protesto contra a decisão da direção do jornal de demitir um quarto dos cerca de 400 funcionários do jornal. É mais um capítulo da grave crise vivida pelos jornais israelenses. O tradicional “Maariv”, um dos três jornais mais importantes do país, estava prestes a ser fechado até ser vendido recentemente para dono de uma publicação de direita, o “Makor Rishon”. Mesmo assim, não deve escapar de demissões em massa.
A luta pela sobrevivência dos jornais israelenses num mundo cada vez mais digitalizado se agravou com a entrada em cena, há alguns anos, do diário “Israel Hayom” (Israel hoje). Distribuído gratuitamente, o jornal é financiado pelo magnata americano dos cassinos Sheldon Adelson, um dos maiores doadores do candidato republicano Mitt Romney e alinhado com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu.
A crise dos jornais não é exclusividade de Israel, claro. Mas a ameaça que paira sobre o “Haaretz” tem uma dimensão muito além do drama pessoal dos funcionários demitidos. Nos últimos anos, com o enfraquecimento da esquerda, o jornal liberal fundado em 1919 tornou-se a única oposição de peso em Israel.
Embora tenha tiragem acanhada, sua influência é enorme e foi ampliada a níveis globais com o advento de sua excelente edição em inglês, há uma década. O perigo que significaria o desaparecimento do “Haaretz” foi ressaltado por Gideon Levy, um de seus mais conhecidos colunistas, que foi contra a greve.
“Estamos brincando com fogo. O mais importante é que o jornal continue existindo”, disse.
Levy se refere ao golpe que a democracia israelense sofreria sem o seu jornal mais combativo. Mas seria também um desastre para quem ainda acredita que é possível produzir informação e análises de qualidade na era do jornalismo fast food. Ideologias à parte, o “Haaretz” é um senhor jornal.
É preciso cuidado pra nenhum sheik financiar estes jornais. Em termos de $$$ tudo é possível. Já pensou se isso acontece?
O mais especial do Haaretz é que apesar de ser um jornal sionista, é a única voz de oposição aos crimes israelenses na Palestina com acesso aos bastidores do poder israelense. Existem inúmeros jornais que fazem oposição a Israel fora de Israel, mas eles não tem acesso nenhum a notícias vindas de Israel. E todos os demais jornais israelenses são meros repetidores da propaganda oficial.
Gustavo, uma correção: o “Haaretz” se destaca pela qualidade de seus textos e pela atitude combativa, mas não é o único jornal ou veículo de imprensa israelense que critica o governo e expõe os erros e abusos dele. Os dois outros jornais mais populares, “Yediot Ahronot” e “Maariv”, e os canais de TV aberta, incluindo o estatal, batem forte no governo e revelam escândalos. A diferença é que o “Haaretz” tem uma cobertura frequente e mais crítica da ocupação e combate o status quo de paralisia do processo de paz. Há casos de jornalistas alinhados com o governo, mas dizer que todos os demais jornais são meros repetidores da propaganda oficial é uma afirmação injusta.
Marcelo, posso não ter sido claro mas me referia essencialmente ao conflito árabe-israelense. Sim, em outros assuntos há muita discordância. E também não queria dizer que os outros jornais não possam revelar as vezes casos específicos de abusos do exército, por exemplo. Me refiro à visão geral que possuem do conflito.
E esta visão geral a que me refiro não ocorre por pressão do governo, é no que a sociedade israelense em sua maioria acredita.