O islã e a Primavera Árabe
24/09/12 15:27A onda de protestos anti-Ocidente que sacudiu o mundo islâmico nos últimos dias levou alguns profetas do caos a se vangloriar, por supostamente terem previsto que a queda de ditadores árabes não passou de uma maquinação do islã radical. Não foi.
Apesar de cada país ter características próprias, que definiram os rumos das revoltas, a Primavera Árabe na Tunísia, no Egito, na Líbia e na Síria teve uma gênese comum: o protesto popular e espontâneo contra décadas de tirania e desigualdade.
O elemento religioso sempre esteve presente, como em tudo no mundo árabe, mas não foi o motor das revoltas. O islã político não começou a Primavera Árabe, pegou carona no movimento e saiu ganhando onde era mais organizado, como nas eleições do Egito e da Tunísia. O fato de os protestos geralmente começarem em mesquitas não significa que eram necessariamente religiosos, mas que os templos eram o únicos locais onde reuniões eram toleradas pelas ditaduras. Depois, claro, essa logística e os anos de ativismo semiclandestino ajudou a propagar a mensagem religiosa, aumentando o teor de islamização dos levantes.
Partidos islamitas chegaram ao poder na Tunísia e no Egito com um discurso moderado, prometendo manter a abertura ao Ocidente e o respeito às liberdades civis, tendo o islã como “referência”. Nos dois países, porém, as revoltas liberaram forças salafistas que estavam reprimidas durante os anos de ditadura. Elas agora representam um teste importante para esses governos islamitas moderados, que terão que impor limites aos radicais para proteger o Estado. Terão, de alguma forma, que definir as fronteiras entre Estado e religião, que no islã se confundem.
O tosco e islamofóbico filme “A inocência dos muçulmanos”, produzido nos EUA, foi a faísca usada pela minoria salafista para incendiar as ruas e ganhar espaço político. O sentimento antiamericano predominante no mundo islâmico ajudou a acender a fogueira. A disputa é política, mas ocorre em torno da narrativa islâmica. O objetivo dos salafistas é “se apresentar como a única e exclusiva corrente islâmica”, me disse em entrevista o pensador islâmico Tariq Ramadan, que acaba de lançar um livro chamado justamente de “O Islã e o Despertar Árabe”.
É, repito, uma minoria. Conversei com jovens que participaram dos protestos pró-democracia no Egito, na Tunísia e na Líbia, e todos estavam envergonhados e furiosos com os excessos cometidos nos protestos antiamericanos. A Primavera Árabe continua.
Ao tornar-se político, utilizando os mecanismos da democracia para chegar ao poder, o islã passou a ser vitrine. Diante disso, os islamitas moderados terão que desenvolver e impor uma tolerância maior. Se realmente acreditam no que prometeram em suas campanhas, a fusão entre modernidade e islã, precisam deixar de lado a vitimização e abraçar o pluralismo, como na Turquia.
Roger Cohen, o inspirado colunista do “New York Times”, definiu a encruzilhada com perfeição: “O mundo muçulmano não pode ter os dois. Não pode colocar o islã no centro de sua vida política e ao mesmo tempo declarar a religião fora dos limites da contestação e do ridículo”.
È questão de tempo.
O mundo Árabe nunca viveu um dia sequer em alguma coisa parecida com Democracia, e muito menos têm alguma idéia do que seja “Estado de Direito” e separação entre religião e estado.
Infelizmente é apenas questão de tempo para regimes como o do Irã ou até mesmo piores assumam o poder de fato nesses infelizes países.
A Primavera Árabe é apenas o começo. Não a considero um caos…ela é uma reciclagem no mundo islâmico.
A utilização da religião como ferramenta política no Oriente Médio e Sul da África é decepcionante; o Islamismo é utilizado como uma luva que se encaixa perfeitamente nos interesses políticos e comerciais dos “Líderes”; não que o Islamismo seja violento, mas usam sua teologia “Ismaelita”de maneira errada, para causar revolta e violência contra algumas nações consideradas “infiéis”, instituindo assim esse caos.