Gaza, um mundo à parte
13/07/12 11:17
GAZA – Um longo corredor gradeado faz a ligação entre o terminal israelense de Erez com a faixa de Gaza. A caminhada de mais de um quilômetro é solitária. O “tapete vermelho” (foto), com os moradores de Gaza ironicamente chamam o caminho, devido à coloração do piso, está vazio. Quem tem dificuldade para caminhar, agora pode fazer o percurso num carrinho de golfe, doado pela Turquia há poucas semanas.
Antes do bloqueio imposto em 2007 pelo governo israelense, quando o grupo islâmico assumiu o controle de Gaza, milhares de trabalhadores se aglomeravam no corredor todos os dias a caminho do trabalho em Israel. O resultado foi desemprego em massa. Segundo a ONU, 80% dos moradores de Gaza dependem de ajuda humanitária.
Cinco anos depois, uma situação que parecia temporária virou o status quo. O Hamas age como governo e a divisão palestina é mais profunda do que nunca. O mais recente símbolo de soberania do grupo islâmico é a exigência de visto para estrangeiros que entram em Gaza. São poucos os que tem autorização de Israel para entrar, basicamente jornalistas, diplomatas e funcionários de organizações internacionais. O primeiro hotel cinco estrelas de Gaza, aberto no ano passado, está às moscas.
As duas Palestinas são, cada vez mais, mundos à parte. Na Cisjordânia, o governo é secular, bebidas alcoólicas são servidas em restaurantes e há relações diplomáticas com o mundo. Em Gaza, o regime é islâmico e a sensação de isolamento é marcante. Até as placas de carros são diferentes. Recentemente, o Hamas criou a sua própria (foto), com a bandeira da Palestina. Entre os jovens, a maioria jamais saiu do pequeno território. O mundo é conhecido por meio da TV e da internet, as principais fontes de entretenimento, além da praia.
A solução de dois Estados para o conflito entre Israel e os palestinos é um sonho distante. Na prática, hoje há três Estados que mal se falam e ninguém vê luz no fim do túnel.
A unica solucao para Gaza e a eliminacao
do Hamas ,militarmente falando,sem isto,
sonho de verao,ou Primavera Arabe neles,
como na Siria.esta e a solucao.Israel
vai retomar Gaza de volta,e questao de tempo.
É largamente sabido que, além da questão de segurança (ou de sobrevivência, como afirmam os nacionalistas), Israel jamais abrirá mão da Samária e da Judéia (Margem Ocidental para os Palestinos) onde se situam suas prósperas colônias e vários e importantes sítios históricos e sagrados do Judaísmo. Além disso, do Rio Jordão dependem quase a totalidade dos recursos hídricos do Estado Hebreu e, por último resta a questão de Jersusalém cuja divisão nenhum judeu quer sequer sonhar. Por outro lado, os Palestinos não parecem dispostos a abrir mão de suas demandas e muito menos da Jerusalém Oriental que desejam tornar a capital do Estado que querem criar. Dessa forma, “dois Estados para dois povos” parece quimera ou um sonho inalcançavel e os dois lados sabem disso.
Estamos num impasse insolúvel?
Nem tanto! Porque ao final restará ainda uma alternativa, a única e última alternativa válida, ou seja, a velha proposta do Estado bi-nacional, democrático e laico. Em outras palavras, todo o Estado de Israel-Palestina para as duas nações. Os dois povos deverão abrir mão de seus sonhos e ilusões particulares, botar os pés no chão e olhar para o único horizonte à frente, o da partilha do mesmo chão. Essa é a idéia.
O estado binacional vai depender da disposição dos judeus ortodoxos e nacionalistas de abandonarem seus ideais sionistas, dos laicos perderem o medo visceral e fantasioso dos árabes palestinos e dos próprios palestinos abandonarem definitivamente seus complexos e passarem a enxergar os judeus israelenses como parceiros com quem poderão negociar, partilhar conhecimentos e crescer, ao invés de inimigos a ser temidos e destruídos. Não é, de longe, um plano a ser desprezado. Vide a África do Sul de brancos e negros e a India de indus e muçulmanos, ambas binacionais.
Realmente, quando o governo israeli acelera novas construções nos seus assentamentos e na Jerusalém Leste, está automaticamente condenando ao fracasso o plano de “dois estados para dois povos” que hoje ainda seria factível, talvez. O que restará no final? Um estado para dois povos, o dificílimo estado binacional.
Marcelo, você diz: “O Hamas age como governo…” Como assim? O Hamas É governo, foi eleito democraticamente pela maioria da população de Gaza. Em sua resposta ao leitor Neco, você diz que “por motivos de segurança Israel criou uma zona-tampão…” Motivos de segurança? Quer dizer, então, que Israel fecha as fronteiras do país, impede a população de entrar ou sair, impõe um bloqueio econômico e constroi esse túnel ridículo para controlar o acesso das pessoas porque se sente ameaçado? Procure ler mais, Marcelo. Essa questão Israel-Palestina é muito complexa e exige atenção e precisão por parte do jornalista. Você percebeu que ninguém entendeu o seu texto? A Faixa de Gaza, infelizmente, é um assunto praticamente banido da mídia. Você está com a faca e o queijo na mão para produzir um material jornalístico sem concorrência no Brasil. Não perca essa oportunidade!
Eurico, os motivos que Israel alega são de segurança, você pode ou não concordar. Quanto ao Hamas, foi eleito democraticamente em 2006 e no ano seguinte tomou o poder à força, expulsando o Fatah de Gaza e impondo um regime islâmico que não admite dissidências. Leitura é sempre importante, quanto mais melhor, mas a vivência é insubstituível. Acompanhei em Gaza a vitória do Hamas em 2006 e voltei lá diversas vezes desde então. A insatisfação da população é cada vez maior. Mesmo pessoas próximas ao Hamas admitem que o grupo não está interessado em reconciliação ou novas eleições, a prioridade é garantir a permanência no governo. O bloqueio israelense é um grande vilão e deixou milhares de desempregados em Gaza, mas também trouxe benefícios para o Hamas e o ajudou a consolidar-se no poder. Você tem razão, age como governo porque é governo. O melhor seria eu ter dito: age como país soberano. É o país do Hamas.
Nossa! Senti-me pequeno. Pequeno, não. Muito pequeno, quase arrasado até, depois de ler o comentário do Sr. Eurico Ferreira Junior em que manda o colunista ler mais. Se o Marcelo, que escreve tão bem, que cria matérias incríveis e que com muita sensibilidade e competência traz a realidade viva do Oriente Médio até nossa sala de estar precisa ler, eu então preciso o quê? Provavelmente, voltar pro ginásio lá da minha terra e começar tudo de novo. Ai, meu Deus, que loucura! A propósito, a matéria sobre o tal túnel da passagem de Erez pareceu-me até bastante clara e por demais explicativa. A foto foi de grande ajuda, haja vista tratar de um tema que a mídia raramente aborda a menos que ocorra no local um atentado qualquer ou a queda de um Kassam desavisado.
que reportagem mais…esse tunel liga o que a quê?entendi nada.
A porta do terminal de Erez, como já foi dito acima, situa-se na fronteira entre o Estado de Israel e a Faixa de Gaza e é ali que está localizado o túnel objeto desta matéria. Antes das intifadas e da tomada de Gaza pelo Hamas milhares de Palestinos passavam por ali de manhã cedo para trabalhar em Israel e de tarde voltavam para suas casas na Faixa de Gaza. Atualmente, com o bloqueio, pouquíssimas pessoas são autorizadas a cruzar a fronteira e ninguém passa de um lado para o outro sem autorização expressa e cerrada supervisão dos órgãos de segurança israelenses.
Pois que sejam dois, pois que sejam tres. Certamente, ‘um’, não é.
Até hoje eu não consigo entender como é que pode existir um país formado – em comparação – por Góiás e Acre, com o Mato Grosso no meio. Isso é pura utopia. Gaza (Israel)Cisjoprdania ???
Alem disso não entendi o que esse “tapete vermelho” liga entre si. É um corredor cercado que liga que lugar a que lugar?
O caminho é a única passagem de pedestres entre Israel e a faixa de Gaza. Por motivos de segurança, Israel criou uma zona-tampão na fronteira, e é nessa “terra de ninguém” que fica o corredor gradeado. Depois de apresentar os documentos ao controle israelense o pedestre percorre esse caminho para entrar em Gaza.