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Marcelo Ninio

No Oriente Médio

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Pai do processo de paz leva sua frustração ao Brasil

Por Marcelo Ninio
11/04/12 10:47

Rabin, Clinton e Arafat na Casa Branca, após a assinatura do primeiro acordo entre israelenses e palestinos, em 1993

Um dos arquitetos da histórica reconciliação entre israelenses e palestinos chega hoje a Brasília com uma mensagem de pessimismo sobre o futuro do processo de paz.
 
O ex-ministro israelense Yossi Beilin, um dos principais negociadores dos Acordos de Oslo, em 1993, acredita que só uma ação drástica poderá chacoalhar a inércia dos últimos anos, que anuviou a perspectiva de um acordo de paz e a solução de dois Estados.
 
Em carta publicada há poucos dias pela revista “Foreign Policy”, Beilin apela ao presidente palestino, Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen), que desmonte a ANP (Autoridade Nacional Palestina) e devolva as responsabilidades pela administração da Cisjordânia ocupada a Israel.
 
“Admito que jamais acreditei que chegaria o momento em que eu teria de dizer essas palavras”, escreveu Beilin, que já no título da carta deixa clara sua indignação com a paralisia das negociações. “Caro Abu Mazen: acabe com essa farsa”.
 
Convidado pelo deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), Beilin participará amanhã de uma sessão conjunta das comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado ao lado do palestino Yasser Abed Rabbo, secretário-geral da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Os dois são parceiros na “Iniciativa de Genebra”, uma detalhada proposta de acordo formulada dez anos depois de Oslo, que nunca saiu do papel.
 
 Conversei com Beilin pouco antes de seu embarque para o Brasil para saber por que ele defende o desmonte da ANP, criada pelos acordos que ajudou a negociar. Para Beilin, diante do desinteresse do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e do fortalecimento de radicais de ambos os lados, o fim da ANP é a forma de de tirar o processo de paz do coma profundo.
 

“Penso assim há muito tempo. A nossa intenção era terminar tudo em maio de 1999”, diz Beilin. “Já deveriam ter desmontado a Autoridade Palestina há mais de dez anos. O que acontece é que os opositores de Oslo o transformaram em algo que os ajuda a não chegar a um acordo final. Querem manter o acordo interino para sempre. E não podemos apoia-los nisso.”

Como isso ajudará o processo de paz? O fim da ANP não cria o risco de uma volta à estaca zero, ao período pré-Oslo?

Não há como voltar ao período pré-Oslo. O que foi feito não mudará. Por exemplo, antes de Oslo não se sabia exatamente como seria o acordo final. Hoje isso é bem mais claro. Antes de Oslo, os palestinos que chegaram à Cisjordânia do exterior não estavam lá, incluindo Abu Mazen. Eles continuarão a liderar a OLP. O fim da ANP não deixará Israel sem um parceiro [para um acordo]. Mas não haverá mais ministros responsáveis por assuntos como água, energia e agricultura na Cisjordânia. E isso é uma mudança que obrigará Israel a pensar no que fazer. Toda a administração da Cisjordânia voltará a Israel. É uma forma de pressionar Israel, os EUA e também o Hamas [grupo islâmico palestino que controla a faixa de Gaza e se opõe a um acordo com Israel].”

Dois dias antes de viajar para o Brasil, Beilin, 63, esteve com o presidente palestino em Ramallah, onde repetiu o apelo. Segundo o ex-ministro israelense, Abu Mazen respondeu que o desmonte da ANP é uma opção que ele “leva a sério”, caso Netanyahu não atenda às condições palestinas para a retomada das negociações, principalmente o congelamento das construções de assentamentos judaicos nos territórios ocupados.

Na próxima semana, o premiê palestino, Salam Fayyad, deve encontrar-se com Netanyahu, a quem entregará uma carta de Abu Mazen com as condições. Beilin não tem nenhuma esperança de que o encontro resulte em algo.

“Não há nenhuma chance. Netanyahu não está pronto para um acordo nem disposto a suspender os assentamentos ou declarar as fronteiras de 1967 como a base de um Estado palestino”, diz ele.

Na avaliação de Beilin, o fim da ANP também colocaria pressão no Hamas, que é contra o processo de paz mas se beneficia de financiamento da ANP, em torno de US$ 200 milhões por mês.

No Congresso brasileiro, Beilin explicará suas idéias e dirá que atualmente não há condições para um acordo de paz permanente.

“Acho que no momento, certamente com o governo de Netanyahu, é impossível chegar a um acordo final. O caminho mais prático é fazer mais um acordo interino, que estabeleça fronteiras temporárias e que reconheça o Estado palestino”, defende.

Sirkis explica que o convite a Beilin e Abed Rabbo é uma tentativa de renovar o interesse do Brasil no processo de paz, que foi intenso na segunda metade do governo Lula.

“Estive com a presidenta Dilma, na quarta-feira passada e pedi-lhe que recebesse Yossi e Yasser com um posicionamento brasileiro favorável a recolocar a questão palestina como central na crise do Oriente Médio, num momento em que a adminstração Obama teve que recuar sob pressão da AIPAC [lobby pró-Israel] e de suas circunstâncias eleitorais. A presidente teve uma reação bastante favorável, mas há algumas dificuldades de agenda em função de sua viagem aos EUA”, diz Sirkis.

Beilin diz que a comunidade internacional não está fazendo nada para ajudar no fim do impasse e que o Brasil pode ter um papel importante, mesmo sem ser um ator tradicional na região.

“O Brasil não tem um papel natural no Oriente Médio, mas pode contribuir. A Noruega também não tinha um papel natural, mas em 1993 decidiu agir e teve grande influência, apesar de ser um país pequeno”, lembra.

Beilin e Abu Mazen (direita) durante encontro nesta semana

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Comentários

  1. Valdir E. Santo comentou em 10/05/12 at 16:58

    Concordo com a proposta Yossi Beilin, agora, tirar o Hamas e ANP do caminho para o progresso da paz, só se entrar dinheiro dos países interessados em ser mantenedores do processo, menos Irã etc.

  2. rubem comentou em 22/04/12 at 14:39

    não há espaço para qualquer iniciativa de paz pois o Hamas está encastelado em Gaza e recebe financiamento da ANP, Irã e outros mais. Eles criaram seu proprio país e são os “coronéis” de seu “sertão”. Sabe quando eles reconhecerão Israel? nunca.

  3. Cláudia comentou em 14/04/12 at 14:14

    Eu quiz dizer isralelenses, palestinos e todos que almejam a paz.

  4. Sérgio Storch comentou em 13/04/12 at 13:18

    O Brasil e os mais de 50% tanto de israelenses quanto de palestinos que concordam com os termos da Iniciativa de Genebra têm de fato uma janela de oportunidade neste ano, até a realização do Forum Social Mundial pela Palestina Livre, que será em Porto Alegre em 28/11-1/12. Marcelo, sugiro você acompanhar de perto com as lideranças do Peace NGO Forum formado por 130 ONGs de ambos os lados, para noticiar os movimentos que estão acontecendo por baixo da superfície, à revelia das lideranças oficiais israelenses. Haverá uma sequência de fatos a serem realizados no Brasil a partir da Rio+20, com a presença de algumas dessas lideranças, desafiando as mensagens da lavagem cerebral que o governo de Israel tenta promover nas comunidades judaicas, de que “não há parceiro para a paz”. Bullshit de embaixadores e cõnsules. Fique ligado nisso, para manter os leitores da Folha informados com a visão da linha do tempo. Os eventos estarão todos interligados, e com certeza estaremos juntos, ativistas na sociedade civil brasileira que são judeus e árabes, no Forum Social Mundial, e contaremos com o apoio dos movimentos sociais Occupy no mundo ocidental. O êxito da propaganda baseada no medo, tipo “Pedro e o Lobo”, que amplifica o medo ao antissemitismo, está com os dias contados, e a sociedade entenderá que o antissemitismo deve mesmo ser combatido, exatamente como deve ser combatida a islamofobia. O inimigo comum dos democratas é o fascismo, inclusive o fascismo que está hoje encastelado no ministério do governo israelense e que ameaça não só palestinos mas também os próprios judeus israelenses do campo democrático.

    • Cláudia comentou em 14/04/12 at 14:13

      Isso mesmo Sérgio, ótimo comentário! Israelenses, palestinos todos que almejam a paz juntos, lutanto por uma resolução, que mesmo desagradando aos dois lados, levará a algum lugar nesse descaminho todo, e quem sabe diluirá esse ódio que só traz sofrimentos. Árabes, cristãos e muçulmanos, e judeus numa luta que não permita espaço a choramelas preconceituosas, mas que dê um basta nos radicais.

  5. Hafiz comentou em 12/04/12 at 16:19

    Tomara que chegue a um fim mesmo! Esta ladainha árabe-israelense só vai parar quando Allah / Yavé ‘chacoalhar’ aquelas bandas com um terremoto daqueles!!!

    Irmãos não deveriam brigar!

    Salaam!

  6. Raphael Boaz Levay comentou em 11/04/12 at 19:39

    Quando Beilin fala, pessoas sensatas devem se calar e ouvir com atenção. Mesmo que esteja errado, seu histórico de combate e abordagem honesta e respeitosa na questão israelo-palestina lhe dá crédito merecido para ser levado a sério.

  7. Claudia comentou em 11/04/12 at 16:50

    Parabéns Marcelo por nos trazer a verdade! Apesar de acreditar que Oslo não era grande coisa confio no envolvimento de Beilin pela paz. Através de suas declarações sobre a realidade a respeito da ANP, que parece levar boas vantagens com a situação do conflito, e da sua opnião sensata sobre Netanyahu, inimigo de qualquer acordo e parceiro dos radicais, ele nos mostra que existem pessoas lutando por um acordo do lado israelense. Que essa situação indecente um dia possa chegar ao fim!

  8. marcelo comentou em 11/04/12 at 14:54

    Beilin eh disparado o politico mais honesto e sensato de Israel, talvez do mundo. por isto sua popularidade vai de mal a pior.

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