Palestina: o show não pode parar?
03/04/12 21:09
A cena é um ícone dos tempos modernos: um jovem palestino com o rosto coberto desafia a pedradas o poderoso Exército israelense.
Na última sexta-feira ela se repetiu. Como num script ensaiado, soldados, manifestantes e jornalistas se posicionaram para o confronto. Em segundos, estava montado o cenário de guerra. As imagens são sempre candidatas às primeiras páginas de jornais mundo afora. Pedras contra bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Depois de algumas horas, tudo volta ao “normal”, ou seja, à ocupação israelense e à impotência de líderes dos dois lados.
Quem acompanha de perto sabe que é uma guerra limitada no tempo e no espaço. Na barreira de Kalandia, principal ligação entre Israel e a Cisjordânia ocupada e tradicional ponto de atritos entre soldados e palestinos, vi manifestantes fazendo uma pausa para o café antes de continuar com o lançamento de pedras. Em Jerusalém, turistas caminhavam calmamente e tiravam fotos das cenas dantescas de policiais israelenses avançando contra os manifestantes. O desalento palestino é autêntico, o protesto, talvez sua única arma. Assim, o “show” insiste em não parar.
Desde a segunda intifada (2000-2005), não há confrontos importantes nos territórios palestinos e a clássica imagem invertida de David e Golias mantem-se apenas como ícone. O processo de paz está em coma profundo, os israelenses se conformaram com o status quo e os líderes palestinos, divididos, não encontram um caminho para concretizar sua ambição de independência.
Tenho encontrado cada vez mais palestinos descrentes na solução de dois Estados. Para eles, a fórmula que serviu de base para todas as negociações desde 1995, quando a Autoridade Nacional Palestina (ANP) foi fundada por Yasser Arafat para ser um embrião do futuro governo independente, está sendo enterrada pela consolidação da ocupação israelense.
Uma pesquisa divulgada hoje pelo Centro Palestino de Política e Pesquisa confirma isso: 57,8% dos entrevistados disseram que a opção de dois Estados não é mais viável. Para 62,3%, o plano de Israel é anexar o território ocupado e expulsar seus habitantes. Teorias conspiratórias à parte, o desânimo é resultado de quase 20 anos de negociações de paz infrutíferas, que criaram uma rotina de ocupação e atrito da qual tanto palestinos como israelenses não conseguem se desvencilhar.
O impasse é alimentado pela falta de decisão das lideranças. Em Israel, a busca de um acordo de paz despencou na lista de prioridades do premiê Binyamin “Bibi” Netanyahu. Com a popularidade em alta, sem oposição interna e amparado por uma coalizão avessa a concessões aos palestinos, Bibi sente-se à vontade para manter um discurso dúbio, que talvez garanta a sua reeleição, mas não avança a paz: de um lado se diz a favor da solução dos dois Estados, de outro, dá esperança aos colonos de que a ocupação está longe do fim.
Enquanto isso, Netanyahu perde a chance de negociar com o Fatah e a liderança mais pragmática que os palestinos já tiveram, como disse seu antecessor, Ehud Olmert. Em discurso na semana passada, Olmert, que afirma ter chegado perto de um acordo com o presidente Mahmoud Abbas em 2008, criticou a falta de iniciativa de Israel e disse estar convicto de que o líder palestino está comprometido com a paz.
Os palestinos exigem o congelamento da expansão dos assentamentos para dialogar. Israel exige negociação sem pré-condições. Nada se move. O tempo passa.
Entre os palestinos, o status quo é a desunião. Já perdeu-se a conta das vezes em que o Fatah e o Hamas, as duas principais facções palestinas, assinaram acordos de reconciliação. A tinta mal seca, e as divergências fazem tudo voltar à estaca zero. A ANP pode conquistar vitórias aqui e ali em fóruns diplomáticos, mas isso é muito simbólico e pouco prático. Como sempre ouço quando visito a Cisjordânia, de símbolos os palestinos já estão cheios. Querem resultados. E sem resolver a cisão que dividiu os palestinos entre duas entidades rivais em Gaza e Cisjordânia, será bem mais difícil convencer o mundo de que os líderes palestinos são capazes de chegar à paz com Israel e gerir um Estado. Um desafio e tanto quando de um dos lados está o fundamentalista islâmico Hamas, patrocinado pelo Irã e guiado pela idéia de ver Israel sumir do mapa.
Os confrontos da última sexta marcaram o Dia da Terra, uma das datas do calendário anual de protestos palestinos. Começou em 1976, quando seis árabes israelenses foram mortos em manifestações contra a desapropriação de terras.
Antecipando-se à versão 2012 do evento, o mais popular líder palestino mandou, da cadeia, uma mensagem convocando uma onda de protestos não violentos contra a ocupação. Condenado à prisão perpétua por liderar a segunda intifada, Marwan Barghouti, do Fatah, descartou a negociação com Israel como opção para alcançar a independência palestina.
Prenúncios de uma terceira intifada circulam há anos, sem nunca se materializar. Na pesquisa do CPPP, 51,9% dos palestinos se dizem favoráveis a uma resistência “popular, não violenta e desarmada”. Mas é difícil saber quantos se engajariam numa nova intifada, levando em conta os péssimos resultados e as lembranças da dura resposta israelense à última. 28,7% querem a resistência armada.
Ainda de acordo com a pesquisa, se houvesse uma eleição para presidente palestino com Barghouti no páreo, ele venceria com 64% dos votos. Mas não é só por isso que sua mensagem deve ser levada a sério. Um status quo cômodo só para um lado não é sustentável.
Nos próximos dias espera-se nova movimentação para retomar a negociação. O script já é conhecido.
Com o mar de assentamentos premeditados na Cisjordânia, AKA Samária e Judéia, parece que “dois Estados para dois povos” é página virada. Expulsar os árabes palestinos dessas regiões parece inviável senão politicamente impossível. Resta-nos imaginar algo que parece inevitável: Um Estado para dois povos.
Marcelo,
o teu blog comete pelo menos um erro grotesco. E ele se refere `a razao do Barguthy estar cumprindo prisao perpetua. Ao contrario do que voce diz, ele nao esta la por ter liderado (?) a segunda intifada e sim esta cumprindo uma sentence de cinco (5) prisoes perpetuas. Ele foi condenado por ser o mandante de vario atentados que causaram a morte de 5 inocentes.
Com respeito `as manfestacoes pelo dia da terra, o maior incitador dela foi o Iran, que mandou cidadaos para ca’, como se a causa palestina fosse algo que realmente o preocupa.
Com relacao ao dia da terra, ou melhor, `a razao das manifestacoes, ela nao tem nada a ver com os 6 mortos e sim com uma decisao governamental com relacao a 20 mil dunas de terras. Os mortos foram consequencia de manifestacoes violentas por parte dos arabes.
Com relacao `a criacao de um estado palestino, o governo israelense fez mais que os proprios lideres palestinos para que isso pudesse acontecer: acordo de oslo 1, acordo de oslo 2, ofertas irrecusaveis ao Arafat (que a bem da verdade nao tinha nenhum interesse na criacao de um pais tendo a Israel como vizinho), ofertas feitas pelo olmert etc. A todas estas propostas a resposta palestina foi atentados suicidas e assassinados de inocentes.
Ate hoje os palestinos tem esa posicao de nao aceitar dois paises para dois povos. Eles querem um pais (palestina) somente para palestinos e sem nenhum judeu (faz lembrar a alemanha nazista) e outro para os dois povos.
Com relacao a liderancas, ate’ hoje os lideres palestinos nao demonstraram um real e verdadeiro interesse na paz e na construcao de um pais. Fatah nao representa o povo palestino. O Hamas manda em gaza. E os dois nao conseguem assinar um acordo entre eles que dure ais que 5 minutos.
Para que a paz seja realmente alcancada, necessitaremos encontrar um lider que seja aceito por todos os muculmanos para levar isso adiante. Mas bastara um simples lider tribal nao aceitar para voltar `a estaca zero.
Uma das coisas basicas que este lider tera’ que dizer , em arabe, e’ que ele reconhece o Estado de Israel. Em arabe para os arabes, pois em ingles o discurso e’ sempre pro-ocidental…
porque meu comentario na apareceu? Foi censurado?
Luis, não recebi seu comentário.
e posso fazer esse comentario, pois moro em Israel ha anos e so quem vive aqui sabe da verdade…acho que esse marcelo devia escrever sobre culinaria ou televisao…
Bruna, até que não é má idéia escrever sobre culinária, sou um apreciador da gastronomia do Oriente Médio. Mas enquanto o impasse atual continuar, não há como não falar no conflito. Se você tem um comentário específico sobre o que eu escrevi, por favor, compartilhe.
Quanta educação! Vê-se que mesmo sendo muito ‘ricos’, não possuem sofisticação!
O que Allah dá com uma mão, tira com a outra! Cuidado! A história sempre é contada por quem vence…
Saudações!
Salaam!
Bruna, você deve saber de tudo mesmo, ou pelo menos acha que sabe né? Parece que não sabe mesmo é usar bons modos, não é verdade?
Nunca vi um jornalista tao ignorante nesse assunto…devia ter vergonha de publicar uma materia como essa…nao sabe de nada e nao entende do assunto
“57,8% dos entrevistados disseram que a opção de dois Estados não é mais viável. Para 62,3%, o plano de Israel é anexar o território ocupado e expulsar seus habitantes.”
Tá exatamente do jeito q Israel quer. Assim com mais colônia eles vão ocupando aos pouco até ficarem com tudo.
O sionismo esta no seu fim Game is Over
Durante quase dois mil anos, fomos sitiados, nações marcharam sobre nossa terra e ainda somos considerados o vilão da história!
Israel não deve ceder um centimetro daquilo que é nosso por direito.
Eu teria usado o signo de exclamação (“!”) no final do título. Enquanto tiver um único árabe muçulmano, recentemente batizado de “palestino”, morando na Cisjordânia, não haverá paz naquela região. Isto tudo mundo sabe, mas ninguém gosta de admitir. Pelo menos não enquanto o mundo ocidental continuará dependente dos países do Oriente Médio para suas necessidades energéticas, nic petróleo.
Sem querer generalizar, mas mesmo assim generalizando, depois da Reconquista, nenhuma contribuição positiva para a civilização humana teve origem no Oriente Médio e África do Norte. Isto se a gente não considerar guerras e matanças sem fim como ‘contribuição positiva’.
Mais cedo ou mais tarde, os “palestinos” precisarão ser todos repatriados para a sua terra natal, a Arábia Saudita, de onde saíram há muitos séculos para conquistar o mundo em nome do Muhammad, o último profeta de Allah na terra. (Aparentemente, Allah O Tudo Poderoso, não tem poder de enviar outros profetas, pelo menos não sem a autorização prévia do Muhammad.) Se os Sauditas, como muitos outros povos árabes, não estarão dispostos a recebê-los de volta, outros países deverão ser procurados.
As histórias de “um país para dois povos”, “dois países vivendo em paz, um ao lado do outro”, e outras fantasias do género, não convencem mais ninguém. A presença de um estado judeu, surpreendentemente desenvolvido, num mar de países muçulmanos, todos mantidos pelo petróleo que eles vendem para o Ocidente e por nada mais, é uma situação insuportável e nunca será tolerada pelos árabes. (A mesmíssima reação ocorreria se um estado cristão tivesse sido criado na Cisjordânia.) Acordar tudo dia de manha e olhar para o seu minúsculo vizinho gerando um sem fim de riquezas não terá jamais a concordância daqueles países. Jamais. Portanto …
Quem financia Israel…basta dar uma ‘navegada’ na internet pra saber que com a ajuda FINANCEIRA E MILITAR dos EUA conseguiram criar um ESTADO – território, para aqueles que padecem do ‘analfabetismo funcional’ (não é o seu caso!) – às custas dos árabes-muçulmanos que você, creio eu, odeia tanto!
Allah, seja Louvado, é ‘Deus’ em árabe – tanto o cristão ou o muçulmano O chamam assim.Não teria inveja de pertencer a um grupo ou país que se acha melhor que os outros!!!
Ao invés de tomarmos partido disto ou daquilo, deveríamos buscar a verdade.Eu sou muçulmano e sou a favor de um Estado Judeu e outro Palestino.
Ah, se fosse cristão, já teria destruído todos os outros vizinhos – vide as Cruzadas!
Abraços!
Salaam!!!