Correndo em Jerusalém
16/03/12 13:27Jerusalém não é para iniciantes. O peso de séculos de história, a permanente tensão do conflito palestino-israelense, a intensa carga religiosa, tudo que faz dela uma das cidades mais fascinantes do mundo às vezes também cansa quem quer apenas uma vida normal.
Com alguma boa vontade, isso até é possível. Para surpresa de muitos, Jerusalém tem uma vida noturna razoável, bons cafés, bares e restaurantes e museus de primeira. Mas o mais interessante são os personagens únicos.
Outro dia vi numa das entradas da cidade velha um camelô vendendo cédulas iraquianas antigas, com a efígie de Saddam Hussein, junto de comprimidos de Viagra. Vai entender a relação… Outro vendedor se especializou em alugar cruzes em tamanho real para peregrinos que querem repetir o trajeto de Jesus Cristo na Via Crucis. Há também jovens judeus que se oferecem, por uma soma modesta, para rezar no Muro das Lamentações por aqueles que não tem tempo.
Isso sem falar no festival de figurinos das diversas comunidades étnicas e religiosas. Dos ultraortodoxos de chapéus de pele e robes acetinados, passando por árabes com típicas galabias e sacerdotes da Igreja Ortodoxa Etíope com seus turbantes e túnicas coloridas, o desfile é interminável.
Correr em Jerusalém também não é piquenique. Não é só pela política que a cidade vive de altos e baixos. Com ladeiras íngremes por toda a parte, é uma pedreira para ciclistas e corredores.
Por isso a Maratona Internacional de Jerusalém, que foi disputada hoje, representou um desafio mesmo para quem optou pelo trajeto mais curto, de 10 km, como o autor deste blog. Ao mesmo tempo, a corrida sintetizou o que é Jerusalém, com suas dificuldades e mistérios.
Conhecer uma cidade correndo é uma experiência única, quem corre sabe disso. Bem diferente de caminhar, pois permite uma interação com o ambiente e ao mesmo tempo um isolamento que só a corrida proporciona. Um “vácuo aconchegante”, como definiu o escritor japonês Haruki Murakami, um obcecado por corridas. Para mim, é como estar dentro de um filme e assisti-lo ao mesmo tempo.
Quando o cenário é rico como Jerusalém, o filme torna-se uma viagem inesquecível pela história. As ladeiras não pouparam os corredores, principalmente na entrada da cidade velha, mas percorrer as vielas antigas da cidadela compensou todo o esforço.
Mais de 15 mil corredores participaram da corrida, que por algumas horas deu um fôlego ao clima denso da cidade sagrada. Para não dizer que o conflito ficou de fora, palestinos queimaram camisas da Adidas em Gaza, em protesto contra o patrocínio da empresa esportiva alemã a uma maratona que incluiu no trajeto um trecho do lado ocupado por Israel.
Em tempo: a maratona completa foi vencida pelo queniano David Cherono Toniok com o tempo de 2:19:52. Na cidade do rei David, nada mais apropriado.
Parabéns pelo Blog Marcelo!! Agora além do Blog do Chacra que é igualmente ótimo, temos mais um para ler e ver o oriente médio peloes seus olhos!!:-)
Assisti pela TV a Maratona,estava frio e
o pior,o vento,mas o cenario e fantastico
de bonito.Seguranca como tem que ser.
O percurso e dificil por ter muitas subidas.
So ver pelo tempo do 1.colocado do Quenia,
2:20H,como foi dificil.
Pois é, Fábio, teve tudo isso e ainda choveu granizo durante parte da corrida. Não era mesmo dia (nem lugar) para quebra de recorde.